quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Uma Abertura

31 de Outubro foi também o dia em que conheceu o Mundo o génio russo/ucraniano do Xadrez Alekhine. Vários pontos de interesse me despertam a atenção a dedicar-lhe: a morte misteriosa ocorrida quase à porta de minha casa, numa fase da vida em que deambulações várias e a simpatia por Hitler fizeram desconfiar de trabalhinho sujo dos serviços secretos britânicos, em especulações ora investigatórias, ora ficcionadas. Também o facto de conhecer dois Netos de Xadrezistas que com ele terçaram armas, um dos quais Este Senhor, pelo que malevolamente ouso esperar que o presente postaleco o faça regressar às lides. E o génio, evidentemente.


O Mestre nosso compatriota que lhe ganhou descreveu, num romântico relato do feito, a noite que precedeu os lances decisivos, em que as peças transfiguradas pareciam, nas suas palavras, ter ganho vida própria e lhe escapavam ao controlo, obrigando a luta extenuante para os domar e à consequente perda do sono. Francisco Lupi - que Dele se trata - acrescenta como no final um dos seus peões ganhara asas e, escapando ao engenho do manobrador, travava luta directa com o Campeão do Mundo, levando-o à desistência. E como, saindo juntos, pairava no ar a incomodidade, até que, tendo entrado num café com música ao vivo, o Maestro, reconhecendo-o, fez tocar a música da canção eslava «Olhos Negros», coisa que teria libertado o Estrangeiro, o qual, depois de beber de um trago o conteúdo da chávena, proferira: Amargou-me tanto este café!
Talvez seja impossível a um grande jogador de Xadrez não se levar demasiado a sério.

Policiamentos

Em dia de aniversário, Salvatore Adamo, com «Vous Permettez, Monsieur?», imaginando que a falência da supervisão paterna, com a remissão para a respectiva e comprometida mocidade, haja sido decisiva na avocação da vigilância das palavras sedutoras que os anúncios matrimoniais possam integrar, decidida pelas autoridades duma importante cidade chinesa a contrapelo das privatizações.

O Fruto Proibido

Conforme chegou cá a notícia tinha mau aspecto. Quando li que um museu britânico resolvera expor uma laranja seca pertencente a lanche de um mineiro morto numa explosão temi que estivéssemos perante alguma abstrusa concepção da Arte, escaldado que me encontro ainda pela vergonha do cão esfaimado que se pretendeu fazer passar por tal. Indo todavia a fonte mais próxima, verifiquei que afinal não era só uma laranja, mas um género que sobrevivera a um dos mais importantes desastres da região, sofrendo alterações pemanentes por acção dele e exibida por museu do Staffordshire vocacionado para dar ao público objectos do quotidiano de uma zona em que as minas tinham um papel fulcral.
Não me repugna, portanto, a exposição apetecida. Quando vemos uma espada ou uma peça de uniforme de algum general célebre elas valem por serem aquelas, que pertenceram a tal dono, pois não se distinguiriam, em muitos casos, das de oficiais de patente igual, cada qual uma entre muitas outras de fardamento indiferenciador.
Não há portanto que condenar esta tentação. Que museu do Mundo hesitaria em ter nas suas colecções o fruto da direita, sob o pretexto de ser apenas uma maçã?

The Real Thing

Querida T, por muito rapioqueiro que se seja, há que não nos contentarmos com encenações, quando podemos ter a mesma dança à séria e a tempo inteiro, conforme comprova esta célebre estampa de Baxter, O Harém, se tiverem a bondade de clicar e ampliá-la.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Ah G`anda Gato!

Depois deste postalinho, fico a saber onde foi encontrada a inspiração para os cortes oportunos na publicação da precursora britânica das Pin-Ups, Norma Sykes, conhecida por Sabrina:

A Propriedade de Si

Abençoado dia este que tem mais do que um aniversariante ilustre. Também Paul Valéry, o mais diferente que do anterior se podia imaginar. Outro de que é de bom tom prezar mais a prosa do que a realização poética, embora nos seus dias a celebridade, seguida de vinte anos aparentemente sabáticos, lhe tenha advindo de versos célebres. Na heterogénia produção que se seguiu teve êxito em conseguir passar a aspiração a encontrar a liberdade nos cumes temáticos mais elevados que o intelecto pode abordar, sem aprisionar na racionalidade dos filósofos o sistema criativo que não o encerre em servilismos de programas ou cumplicidades. De tanto exibir a sua encarnação da lucidez necessária acabamos por acreditar que poderia, se quisesse, ser um grande da Filósofia, só não acontecendo assim por os desprezar um tanto. Não se percebe tanto é como seria compatível tanta elevação libertadora com as obrigações da rotina académica, das solidariedades implícitas numa obediência maçónica, ou até do cigarrinho alcandorado a imprescindível bordão e traindo o papel submisso de prazer.
Remetendo-nos sempre para os grandes arquétipos de espiritualidade universalizantes do Passado, de Leonardo a Pitágoras, somos candidamente induzidos a acredtar que só Valery os pode emular, hoje. Há que dar o desconto, no grande Paul há sempre a descontar a auto-suficiência, até na intervenção política, como na defesa que fez de Salazar, coincidente com a imagem sublinhada pelo Regime, do Homem obrigado a exercer o poder contra a sua vontade. Mas sem inocência ou adesão, transpira sempre a nota de superioridade auto-reconhecida do prefaciador célebre, condescendente para com essa contingência de um político, um degrau abaixo da sublime condição do Pensador, por uma vez concordante em descer até ele o olhar...
Valéry foi muito grande, mas não pela mitologia que construiu de si, a da exacta dimensão da capacidade especulativa concretizada, ícone vivo da alforria da alma pela assinatura de um discurso sem jargão ou masmorras conceptuais. Foi-o pela magistral esgrima da língua, enfim um aspecto formal, mesmo se menos construído por escola, aparentável com os princípios do Simbolismo que na maturidade fez gala de ter ultrapassado.

Desamores de Pluto

Gosto de Pound ainda mais pelo que leu do que pelo que escreveu, o que equivale a uma escalada no partilhado entendimento de ser a sua Ensaística superior à Poesia que também muito produziu. Mais nesta, mas irrrompendo também nos escritos críticos, a espontaneidade da desordenação interior como marca da modernidade cansam um tanto, passadas algumas décadas. E se o seu gosto era inatacável, o traço principal que dava de cada escritor abordado sabia sempre a pobreza de essencialidade, apesar da atenção ao pormenor nem sempre era feliz na apreensão do conjunto.
As posições político-económicas que ninguém consegue impedir-se de referir podem dar alguma pista para compreender o seu todo literário? De notar que a aversão à Finança que o fez encaminhar-se para a animadversão para com os Hebreus não tinha a base comunitária de Hitler nem preocupações de regulação interclassista de paz social, como no segundo Mussolini, antes era vista como um combate muito americano-ruralista contra os obstáculos centralizadores e usurário/monopolistas ao natural desempenho económico do indivíduo. Pelo que, contra o alinhamento histórico, se pode dizer que o seu fascismo foi com o autêntico convergente na acção, que não no fundamento. Claro que esta mundivisão só seria possível num panfletário em que a religião tivesse dado lugar a um exclusivo sociológico e economicista na base da concepção do uso do Poder. Nas sociedades tradicionais europeias a usura estivera proibida aos Cristãos, pelo que o engenho dos rebentos do Povo Eleito cumpria à partida um papel de motor da produtividade comunitária. Não se vinculando a este referencial estava o terreno suficientemente adubado para uma hipervalorização atomista do trabalho de cada qual, que, se bem observarmos, está também sempre presente na exaltação do labor de cada pena que critica.
Com tais reservas, não admira que tanto goste desta fotografia de Alvin Langdon Coburn, em que os colarinhos lembram as páginas lidas, numa osmose entre Leitor e Texto que facilmente consigo imaginar, neste nascido num 30 de Outubro.

Olé!

Os únicos passes de capote que gosto de ver, abaixando o topete do automobilista incensador da sua "máquina", num clássico de Verneuil, com Belmondo jovem e inesquecível, sobre texto hussardiano de Antoine Blondin, muito melhor canto da inadaptação, do refúgio na Amizade e no álcool, do que muita fancaria intelectualista e existencialista.

Pega de Caras

Espicaçaram sem disso se darem conta os Confrades Bic Laranja e Jansenista a minha vontade de ver na net uma imagem condigna da antiga Praça de Touros do Campo de Santana, predecessora da que hoje ocupa o Campo Pequeno. Após abrir muito livro suspeito da a poder facultar, encontrei esta fotografia de um modelo de madeira da dita, integrando a Colecção de Vulgarização ARTE do Diário de Notícias, «A Velha Lisboa», com texto de A. Vieira da Silva, Lisboa, 1927.
Vai aqui como contributo olissipográfico, que eu de Touros... nada. Sempre me regalei com a indiscutível Santidade do Papa Pio V, que em Bula de 1567 prescreveu a excomunhão para quem participasse em corridas taurinas. Só lamento que o motivo haja sido a protecção do homem, em vez da do bovino, que, afinal, era o que não tinha manifestado vontade de entrar nesse espectáculo. Que façam combates de gladiadores com voluntários, ou com condenados criminais, muito certo. Mas deixem em paz seres sem culpas no cartório. E não compro a desculpa de "estar na natureza do touro investir", em combates desse jaez. Também acho da natureza de uns quantos indivíduos de que não gosto oferecer os costados ao chicote e nem por isso passo da conjectura ao facto.
Ainda sobre a proibição eclesial citada, a moderação que se lhe seguiu, de proibir apenas os touros corridos em pontas já me aproxima dos meus amigos aficionados. Se não conseguem eliminar esta carnificina, ao menos que dêem ao bicho uma chancezinha de espetar o bípede que lhe faz outro tanto. E é tempo de emendar a fama de um Rei que não aprecio muito, D. Pedro II, o qual terá apenas transposto para o ordenamento português essa directiva comunitária, como mais tarde se viria a dizer de outras, doutra fonte...

Reflexos em Pelo

Meu Caro Vicente, para que continues a produzir auto-retratos tenho de Te oferecer um espelho. Espero que não aconteça como à minha gatinha que, ao ver-se, fica logo com o pelinho todo eriçado, quando o que se pretende da imagem de uma gata é mais na linha do que segue...

São Papoilas, Senhor!

Schwarzenegger por Renato Cunha

Das duas, três: ou o Governator da Califórnia viu a respectiva sensibilidade afectada pelo drama das enormes extensões de vegetação queimadas, ou está apostado em adoptar todos os hábitos, até os maus, do País de acolhimento. Confrontado com declarações à «CQ »em que dizia nunca ter experimentado drogas e imagens da década de 1970 onde aparecia a fumar marijuana, terá respondido isso não é uma droga, é uma folha. É, evidentemente um refinamento do sexo oral não é sexo clintoniano, cujo autor não se havia atrevido a extrapolar para a mesma substância agora reabilitada, limitando-se a dizer que nunca travara o fumo. Interessante seria ver os consumidores de ópio americanos, representados aqui numa gravura não muito nova, defenderem-se dizendo: não é droga, é uma flor! A integração de um emigrante que escolha a política como carreira implicará fazer dos outros parvos?

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Carta a Uma Vicentina


Peço mil desculpas por desdizer um Vulto que respeito, mas tudo depende dos meios que se frequenta: ora vejam, T e Vicente, esta foto de família dos Aristogatas...
Razão para implorar à Dona Bloguista que me perdoe a ousadia e a virtualidade da oferta ao lado.

O Nó do Problema

Abandono de Robert G. Gardner

Antes de discutir se o principal ponto do abandono pelo Presidente Sarkozy da entrevista em que uma jornalista o interrogou sobre a solidão em que Cécilia o deixou é ou não o problema do nó, gostaria de chamar a atenção para o papel precursor de Santana Lopes, quando se retirou por lhe ver preferido nas prioridades Mourinho; e para a notícia do fim de semana, em que o jogador italiano Cassano saiu dum jogo por não concordar com uma decisão do árbitro. O que os três episódios têm em comum é remeterem para questões de estatuto. O do atleta transalpino é censurável, na medida em que consiste numa subtracção a autoridade que se tinha comprometido a aceitar. O do Político Luso, já por mim abordado, muito compreensível, por recusar que fosse levada às últimas consequências a inversão de hierarquia entre quem tem a incumbência de noticiar e quem tem a capacidade de tomar decisões a que seja dada relevância noticiosa, apesar das transigências que a dependência dos votos e das câmaras impõe.
E o Chefe de Estado Francês? Claro que está no seu pleníssimo direito de não expor detalhes da vida matrimonial, como qualquer outro cidadão. Mas não assim no "profissionalismo" dos membros das Famílias Reais, sabedores de que a privacidade que podem reivindicar é muito mais reduzida do que a do vulgo, desde os tempos em que as Rainhas de França davam à luz em público. A medida da incompetência da jornalista esteve em não se ter apercebido de que inquirir um político eleito é incompatível com a nostalgia da Royauté. E de que a postura dos entrevistados está longe do sonho dos entrevistadores, de um abandono à sua condução, num relacionamento frio e sem afecto.

Não é Branqueamento,

pois não! O que é, não sei se conscientemente ou por deixar-se ir, esta notícia do DN de hoje? As aspas estrategicamente colocadas em Mártires, a relativizar o significado de quem foi morto inocentemente, apenas pela sua Fé, proclamado como tal pela sua Igreja. A comparação do incomparável, de uma lei que impõe destruições simbólicas em casa alheia a uma distinção que apenas respeita aos que estão dentro da Igreja, num zapaterismo mais zapaterista do que o do próprio, o qual enviou uma delegação. Que virá a seguir? Dizer que o "fuzilamento" do Cristo-Rey pelos Anarquistas era um contributo para a arte sacra tão grande como a confecção de Imagens? Quem diz que uma beatificação contribuiu tanto para uma polémica como uma imposição do Poder actual...
Não é branqueamento, é avermelhamento.

Mais Vale Tarde Do Que Nunca?

Binoche por Doisneau
Dirão os mais feros adeptos de Juliette Binoche que já não era sem tempo. Esta rapariga para a minha idade resolveu enfim dar-se à partilha com os carenciados, mediada pela respeitável instituição que é a Playboy. Não querendo admitir que alguém possa especular acerca de a brilhante Actriz estar a sair da linha, publica-se este desmentido fotográfico. Mas não ficarão os nossos amigos Franceses a roer-se por o seu cinema se encontrar uma vez mais refém da máquina de promoção Norte-Americana? Pecha aqui posta a nu por quem desejaria (e como!) tocar com o dedo nesta ferida...

Verdade a ADUzir

No rescaldo de uma joga à antiga, que me atirou para comemorações pouco frequentes nos dias que correm, há que salientar uma verdade, que nem por ser evidente deve ser silenciada: independentemente das soluções técnico-tácticas, nunca no tempo do treinador precedente as Águias poderiam jogar com esta garra. Contra o Marítimo, uma equipa do top deste ano, reduzidas a dez numa expulsão que me parece injusta, por, ao contrário da Imprensa dominante, não ver falta do Quim, com penalty desfavorável a apimentar, só não digo que a segunda parte de fibra que o Benfica empreendeu consistiu em agarrar a esperança da vitória com unhas e dentes, dado as aves serem desprovidas destes últimos.
Adu mostra que é trunfo e no golo não tem só o mérito de estar lá. A forma como se antecipa ao defesa e o próprio toque, não tão fácil assim numa fracção pequeníssima de tempo, indiciam qualidade.
Quanto à tomada germânica da baliza, é tempo não de louvar o método Yes, but, de que falei há dias a propósito de Hendaya, mas sim o Yes, Butt.

domingo, 28 de outubro de 2007

Teleologia dos Paladares Apurados

Quem julgue estar só esta peça do DN na linha das que querem dar do papel da Mulher uma visão correcta em que é Ela Chef e eles aprendizes de culinária está apenas a ver metade do filme: o que está verdadeiramente em jogo é a descoberta do ovo de Colombo para as Senhoras manterem em casa os seus mais-do-que-tudo. Enquanto se dedicam à confecção de manjares cada vez mais elaborados, passa-lhes a vontade de empreender incursões em vista a outra vertente de "realização pessoal". Doravante, muda o sujeito activo da expressão prender pelo estômago como instrumental da conquista. Este livro deve estar quase esgotado!

Contra a Exclusão!

Senhora D. T, é favor não me julgar em função dos congéneres com que priva...

A Eleita do Dia

Não faço ideia do que pensarão Vocelências sobre a aham matéria, mas este Vosso servidor acha que, no respeitante à escolha de uma Mulher para cingir as insígnias nacionais argentinas, seria muito mais avisado eleger Pamela David...

O Recurso ao Vodu

aqui referi a fixação em que cai muito candidato a descobridor da Literatura, no sentido de negar uma autoria shakespereana verdadeira às suas obras. A notícia que agora surge, dando conta da impugnação de autenticidade de célebre retrato seu, parece assim estranhamente aparentada às práticas haitianas que pretendem, por tratos numa efígie, alcançar efeitos no representado. Associações com o programado fim de negar a verdade da correspondência da assunção das obras primas teatrais e poéticas, como a Shakespeare Autorship Coalition cujo logotipo se junta, ancorariam assim as esperanças de ganho da sua causa no êxito da arguição da falsidade do retrato, esperando a consequência da desmistificação da assinatura.
Quanto ao problema concreto, nestas coisas de Arte há que proceder como nas de homicídio: sem corpo a acusação é difícil. E seria estranho que a verdadeira pintura, segundo a tese trocada, não aparecesse, como se estivesse na posse de algum demónio semelhante ao do «Senhor dos Anéis», contentinho da vida por ser o único a contemplar o seu tesouro, o Anel do Poder, nesse caso.
Para além disso, os responsáveis pela guarda do retrato deram uma explicação alternativa para as diferenças esgrimidas pela acusadora, que assentariam nas variações de luz. E, como nos filmes de tribunal norte-americanos, quando é apresentada uma explicação logicamente aceitável que concorra com a da acusação, não se pode condenar.

sábado, 27 de outubro de 2007

Como Me Rendi a Breda

Gosto de jogos de espírito, de fazer a vontade a Damas que admiro e de palrar. Não podia, em conformidade, deixar de comprar o desafio da Terpsichore, de falar sobre um quadro que me tenha dito muito. É inútil esconder o título, porque Aquele que considero o melhor de sempre tem identidade divulgadíssima até junto de pessoas pouco interessadas nas Belas Artes. Demais, diria, pois A Rendição de Breda, de Velázquez, passou com um segundo nome, Las Lanzas. E aqui penso estar uma chave, até porque é uma outra o elemento central, para leitura menos imediata do que a sugerida pelos catálogos. E qual é ela? Não penso que o papel dos dardos em absoluta verticalidade seja apenas o de dar a dimensão do contingente bélico, embora também para isso sirva. Pintor do Rei que era, o Artista quer com uma arma nessa altura já mais cerimonial do que eficaz, dar-nos a grandeza protocolar do Exército da Coroa de Espanha, face a alguma irregularidade dos defensores holandeses, preferencialmente associados à ferocidade combatente dos arcabuzes. Assim se acentuaria o Cavalheirismo de Spínola perante a capitulação de Nassau, de que parece ter tido um proveito igual à fama, o que corresponde ao verso de Calderon inspirador da confecção do quadro: o valor do vencido aumenta a fama do vencedor. A postura de ambos, inclinando-se um, confortando com o braço o homólogo, enformando um traço de união, quebraria a rigidez inicialmente esperada na circunstância. Lanças assim subvertidas dariam a medida da ironia que pudesse corroborar a percepção que Dali tinha do pintor seiscentista, como dos mais inteligentes do ofício.
Mas o que mais me afasta da interpretação dominante é o papel atribuível aos olhares das segundas figuras "para fora da pintura". Onde todos vêem apenas um meio de trazer a si o contemplador dela, eu suspeito, além disso, uma inquietação que só pode ser dirigida ao imortalizador da cena, presumivelmente por captar o instante de entendimento dos chefes, num ambiente de animosidade político-religiosa, com destroços ainda fumegantes em fundo. Assim se explicaria a diferença de expressão do auto-retrato incluído, encostado à borda direita, muito menos severo que a dos outros: com efeito, o retratado conheceria bem demais o retratista...
Não tenho memória especial da comparência, salvo que na primeira vez que conscientemente estive frente a ele tinha enchido o quarto do hotel madrileno em que fiquei de volumes adquiridos na Casa Del Libro. E a surpresa das dimensões, para que me não achava sificientemente avisado. De resto, foi a confirmação da existência real de uma obra muito olhada e algo pensada. Nada como o que aconteceu na Basílica da Santíssima Anunziata, em Florença, onde tinha ido contemplar os frescos de Andrea Del Sarto e tive o encontro até hoje mais imediato com o Sagrado, que me tomou os sentidos e falou, transportando-me, às emoções.
Bom, se isto é uma corrente, gostaria de ouvir o Je Maintiendrai falar sobre um quadro que haja desempenhado um papel capital na respectiva fruição. Estando para isso, evidentemente.

A Beleza do Desporto

Porque hoje é Sábado, uma Paixão que Filipa:ao Sétimo Dia, aproveitando o descanso, há lances de redes que provam também vir do Restelo algo de bom, tal o caso de Filipa Paixão. Onde se lê "anátemas" quem queira pode entender golos...

Azares da Vida

Discussão Por Um Jogo de Cartas de Jan Steen

Quando a escritora Amy Blackmarr vem falar da viciação no jogo, dizendo que não era o ganho material que importava, mas a tentação de vencer a fasquia posta para não ganhar, ocorre-me a definição que Jorge Luís Borges deu de si, como um bom burguês, hostil ao jogo com que aristocracia e plebe se entretinham. Olhando historicamente a Europa é certo que foi nesses meios que a aposta em jogatanas se estendeu, fosse como ostentação do desprendimento e perante o risco de uns, fosse como anseio de elevação de quem nada tinha a perder, por parte doutros. Mas a Contemporaneidade veio prejudicar esta conclusão, pois em nenhum país, tanto como nos EUA, a batota atingiu níveis de importância e transversalidade tão elevados, tratando-se do estado burguês por excelência. Poder-se-ia acreditar que seria uma tentativa de igualar-se às elites estrangeiras, como a sacrossanta licença de usar armas. Mas penso ser mais, traduzir numa produção em cadeia o universal dueto de motivações
já detectado por Cardano - um remédio contra a melancolia e uma tentativa de dominar o destino. O grande matemático milanês, autor da primeira "teoria das probabilidades" de vulto, que correspondia a uma sistematização da Sorte, veio afinal a revelar-se como o aprendiz de feiticeiro que desencadeia forças incapaz de dominar. Depois de na vida ter vencido a impotência de forma muito mais segura do que Kleist - de quem apenas temos o seu testemunho de despedida - os dois filhos a que deu vida revelaram-se criminosos, morrendo um na forca por assassínio, outro no cárcere por ladrão, depois de ter pago uma primeira tentativa de salvamento paterna com a acusação de heresia ao progenitor. Também toda a trabalheira que teve para aprisionar os lances aleatórios dentro das Matemáticas viria a extenuá-lo ao ponto de se virar para a magia e o ocultismo, numa transigência perante as forças irracionais como causa do movimento do Mundo. E ainda associada ao jogo, a teoria que estabeleceu das correspondências fisionómicas, quer como predisposição de ganhadores, quer como indícios de reacção à quota de baralho recebida

acabaram por encontrar um rival muito mais competente em Hans O Cavalo Inteligente, dado como grande jogador de poker por saber contar bem e depressa, quando afinal o que fazia, depressa e bem, era captar as quase imperceptíveis mudanças de expressão humana dos opositores que lhe colocavam em frente.
Num Portugal em que se volta a falar da apetência por tentar a sorte, deve-se notar ser coisa que vem desde D. João II, obrigado a fechar célebre casa de jogo em Lisboa; e da nossa aba da Belle Époque, em que a Mulher de um diplomata regressada à capital do Reino dizia que onde deixara conhecimentos só encontrava parceiros. Mas pelo burgo ou na Estranja enferma tal vício sempre de uma contradição, a de querer dominar forças superiores quem não conseguiu o domínio de si próprio.

Na Esteira do Padrinho

Vamos fazer à T uma proposta que Ela não pode recusar:

Engraxá-La, para que volte a cruzar posts com esta casa.
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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Saúde!


Quero fazer um brinde a uma Musa que muito prezo, das que são capazes de ver para além das tempestades de cada um, na certeza de que pensar sistematicamente também é uma forma de Magia, Real sobre todas, na medida em que influencia o Mundo e domina forças naturais. Cada descanso é uma espera pela Estrela que nos guia e conduz à Salvação.

Lyon Já Está a Arder?

Sabe-se como o General alemão von Choltitz se recusou, durante a Segunda Guerra Mundial, a cumprir a ordem de Hitler concernente à destruição de Paris. Mas terá tido ele um antecedente em Couthon, o triúnviro com Robespierre e Saint-Just que mostrou relutância em levar à letra o édito da Convenção determinando, para desforra da insurreição Monárquica lionesa, a demolição da cidade? Tendo-se limitado a arrasar um edifício, no 26 de Outubro de 1793 sobre o qual passa hoje mais um aniversário, o enviado de Paris foi substituído por executores menos sentimentais, no âmbito de uma repressão que tornou insuficiente a guilhotina e encheu a Capela erguida num dos lados da Igreja de Saint-Pothin de ossadas das vítimas. Infelizmente o desobediente prezava mais as pedras do que as Pessoas e viria a ligar-se às tristemente célebres disposições do Terror. O que vem reforçar a velha semelhança que detecto entre Liberalismo e Hitlerianismo, ambos alçando-se pelos votos e prosseguindo falácias tentadas passar por vontade popular, uns em nome do abuso ostensivo que é o Representativismo, outros por demiurgias no fim de contas semelhantes, delegando no Chefe a adivinhação que desencante o Espírito do Povo. E nos métodos, os quais não se limitam a eliminar opositores, mas, indistintamente, pretendem erradicar cidades inteiras.

Milho Verde

Sarkozy continua a fazer por me cair no goto. Sabe-se da minha costela ecologista, logo não posso deixar de me sentir agradado perante anúncios legislativos importantes. Mas tenho uma vez mais de chamar a atenção para quanto deforma mentalmente um partido: as associações ambientalistas que não visam a ocupação de uma fatia do poder, com as reservas que passos embrionários impõem, saudaram medidas que consideraram no bom sentido. Os Verdes partidarizados logo vieram chamar "propaganda" a acções que vêm no sentido do que dizem defender. É que não pretendem melhorar qualidade de vida alguma, como prioridade. A sua razão de existir é contestar e afrontar, execrando qualquer consensualidade evolutiva. Os heróis deles são os destruidores da plantação algarvia, não tanto pelo que destruíram, mais por terem destruído. E assim merecem ser classificados como transgénicos da Ecologia.

O Fosso e a Fossa

A todos os títulos curiosa, esta notícia. Mas serão as diferenças enumeradas suficientes para reconhecer a existência de duas espécies diferentes? É que, se forem, olhando para o panorama actual, eu diria que a Humanidade já está dividida em muitas mais. Uma coisa é certa, vai acabar de vez com o filão caricatural que vem sendo fazer coincidir a obesidade com a riqueza. É também um reavivar das velhas ânsias castigadoras da prosperidade: quem quereria, sem ser obrigado, viver até aos 120 anos? E quanto ao aumento dos seios das Mulheres, no estrato biológico superior, é a única previsão que não espanta, seriam as que deteriam o exclusivo de recorrer a implantes caríssimos. Por outro lado, predizer um tamanho ambicioso para certo músculo masculino talvez seja uma boa propaganda no sentido de garantir o espírito empreendedor.
Uma coisa é certa: com a redução do queixo masculino fica eliminada a dificuldade maior dos travestis, pelo que o Futuro ameaça ser o paraíso deles. Ainda bem que é só para daqui a cem mil anos...
*
A "evolução da profundidade da voz masculina", lembrou-me uma história de Caruso. Tendo um colega da mesma categoria vocal chegado ao pé dele e perguntado se podia cumprimentar o maior tenor do Mundo, obteve a seguinte resposta: Desde quando passou Você a barítono? A modéstia que falta a quem inventa teorias fantasistas e exaltantes do materialismo, como a exposta.

Tudo Pela Segurança!

Notificados de que o célebre bombeiro de Vila Real que foi apanhado a guiar a ambulância embriagado foi condenado a oito meses de inibição de conduzir, sugere-se este modelo para reforço da frota da Corporação. Não só, bem ensinados os propulsores, dispensaria a contratação de um substituto durante a vigência do castigo, como facultaria uma espécie de piloto automático em novos casos de troca, pelo condutor, do depósito a atestar...

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Influências da Civilização

Um Dandy de Tissot

Quer o Confrade Jansenista que acreditemos ter vivido uma fase Dandy. Daria de barato essa possibilidade, caso a definição comportasse apenas a componente de liderança dos hábitos e admiração alheia. Mas já se não pode aceitar, sabendo-se dos elementos de superficialidade e volubilidade geralmente associados ao conceito. E menos se admite, compenetrando-nos da origem do termo, o nome popularizado de uma moeda do tempo de Henrique VIII, daí estendido para designar tudo o que é muito visto e tem escasso valor. Não O conheci em fase anterior da vida, porém há abundantíssimos sinais na blogosfera que são como o algodão: não enganam.
***
E, a propósito de um congresso a realizar em Aveuro, mão amiga fez hoje chegar ao meu mail a notícia de que sou um perigliófilo. Não conhecia o vocábulo e fiquei apreensivo, tão pouco tranquilizadoras são certas filias de hoje em dia e arriscada me aparecia a parte inicial da palavra. Estou habituado a que me dêem como bibliófilo, apesar de ser comparativamente imerecida qualificação. Afinal, tudo se resumia à minha outra condição de coleccionador - a de pacotes de açúcar.
Donde parti para uma lúgubre reflexão acerca do coleccionismo. Não versando a Arte, logo o Belo, em que medida a aplicação da curiosidade à acumulação de determinada categoria de objectos não acabará por substituir à inicial sofisticação informadora do propósito uma concentração atentatória da atenção ao Humano no seu todo, capaz de transformar em mania esterilizadora o que poderia ser pretexto para engrandecimento interior? No que se assemelharia ao Dandismo, ambos distraindo da profundidade univesalista, embora por diversas vias.

O Coleccionador de Degas

Matar o Mensageiro

Não havendo no YouTube filmes da autêntica carga da Brigada Ligeira, cujo dia passa hoje, este documento que impressiona na medida inversa da facilidade de percepção: Lord Tennyson lendo o poema em que celebrou o feito de coragem mais emblemático do macabro desperdício da Flor da Cavalaria, contra armas modernas. A imprudência do entusiasmo do mensageiro que alterou as ordens mais ponderadas do Comando, sem olhar ao risco desproporcionado, não despertou em Cardigan pedido suplementar de esclarecimento, nem vontade de eliminar o transmissor. O nome dos Seus não se compadecia com hesitações. A justiça do Autor do desastre ficaria atribuída à sua própria intervenção no feito bélico, para que, honra lhe seja feita, logo se ofereceu. A muitos outros caberia uma glória diferente, a do Sacrifício, que só retribuirá noutro Mundo.

Com o PCP

Devo dizer que estou com a direcção do PCP na disputa que tem vindo a lume com a deputada Luísa Mesquita e, embora menos, com o edil da Marinha Grande. No nosso País os membros do Parlamento não são eleitos com cara própria nos boletins, ao contrário do que sucede na América do Norte, logo o que lhes facilita o acesso ao cargo, a diluição sob o manto do símbolo partidário, também deve sobrepor-se, em convindo ao directório. Já nas Câmaras é diferente, pois a personalidade do candidato a Presidente, para muito boa gente conta e o lugar é orgão municipal autónomo. Simplesmente, em ambos os casos parece ter havido concordância dos eleitos em se deixarem substituir quando o Partido o entendesse. E nunca gostei de gente que não honra o que assina.
Dito isto, em nada fica esbatido o patético de querer afogar todas as notoriedades comprimindo-as pelo trabalho do colectivo. Parece-me mais do que o uso da promoção da mediocridade, embora o escaldão das saídas de vedetas, depois da queda do Muro possa influir um tanto. Há mais fundos motivos: tentam os Comunistas tapar os olhos a toda a falência teórica das teses histórico-económicas atirando as culpas para o Culto da Personalidade que delas teria constituído um desvio. E agarrando-se com ambas as mãos - e mais alguma que na manga tenham - à prática contrária e eliminatória do brilho individual, visando aparecer como "purificados".

Até Mudaram de Cor!

Finalmente a Luz chegou! Ontem, depois da derrota com o Glorioso SLB, a elite dos adeptos escoceses do Celtic deitou fora as camisolas. Atitude de louvar, porque da horizontalidade das listras verdes e brancas nunca resultou algo de bom...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Do Espiritual Na Arte

Um achado que é notícia por más razões, pelo que se não pode considerar uma notícia que é um achado. Tudo o que tem voz na imprensa das Belas Artes - e em cantinhos da generalista - fala no "quadro que foi encontrado num monte de lixo e custa um milhão de dollars", sem que alguém medite em como essa redução de e ao valor pecuniário poderia desgostar o Pintor Rufino Tamayo, que a fez. De origem índia, sempre insistiu, contra as tentativas de engajamento nos movimentos políticos revolucionários materialistas, em veicular na sua Arte uma visão da Tradição, legitimada pela sua extracção étnica; e da espiritualidade pessoal e familiar, solidificada pela sensibilidade que exercitou.
Ladrão ou receptador que o tenha deitado fora, possivelmente por tê-lo como dificilmente vendável, a viúva do proprietário a quem o tinham roubado, insensível até ao facto de haver sido presente conjugal, de imediato o alianando, vieram afinal conluiar-se com os adversários da teorização estética do Fazedor da obra, na medida em que tenham considerado tão-só a sua avaliação patrimonial. Que deixa um travo de melancolia em quem goste de pintura. Para além do investimento, digo.

Morrer da Cura?

A Massagem de Ernest Boudet

Lendo este excelente postal da Luar, quis deixar comentário, no que fui impedido pela máquina. Vai, portanto, aqui. A massagem, como relaxante, foi decerto conhecida desde tempos imemoriais por variadíssimos mamíferos de que não é excepção o Homem. Na China radicam a primeira sistematização dela, com maior ou menor fantasia no recuo da época inicial, expressa num escrito venerado, um Cong-Fu (Toa-Tse). Mas no Mundo Grego, que queremos nosso inspirador, não só lhe encontram uma genealogia divina em Asclépio, como Hipócrates, uma espécie de precursor das terapias naturais, diz que um médico deve ser versado, principalmente, na arte de esfregar. E usava-a, sob a designação de Anatripsis, não só para recuperar lesões à maneira do que permanece, como para combater indisposições estomacais.
Os problemas podem surgir da investigação das suas conexões linguísticas: a palavra massagem que usamos tanto a fazem derivar da árabe usada como significando "pressão suave" como da usada para "ataque"; e na grafia que a publicite, como a deste profissional, podendo inculcar ser a fricção uma... maçada. Assim tornar-se-ia inglório qualquer propósito de relaxar..

A Porta do Inferno

Estudo de Roque Gameiro para A Tomada de Lisboa

24 de Outubro a relembrar o de 1147 em que Lisboa se rendeu ao Cristianismo. Semelhanças notáveis, a de um perigo islâmico inamistoso, como a de outro, oriundo do que hoje é a Bélgica, tentando opor-se ao Governo de Portugal e seus compromissos, através dos Cruzados Flamengos que entraram desobedientemente na cidade, para pilhar e matar. Diferenças, também as há: um Rei que ameaçou levantar o cerco, se não fosse respeitada a sua palavra, ao contrário dos mandantes de hoje que fazem seus os receituários de Bruxelas.

Mas há mais, um regime que opta por fazer coro com os factores dissolventes da Nacionalidade, em vez de, como o que o precedeu, cantar os episódios fundadores, está a pedir extinção imediata. Espera-se é que seja a da sua vigência e não a do País,
pois de tão inútil se poder tornar o sacrifício de heróis como Martim Moniz uma outra permanência alteraria por completo o sentido: em vez de um martírio instituidor haverá para lamentar é o entalanço que nos atingirá a todos.

Despique de Feras





Não é só a Função Pública Portuguesa que tem razões de queixa do Sr. Sócrates. Veja-se o que Roma fez a funcionários com tantos anos de serviço...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Curvas da Prosperidade

Que fado o da Gioconda! Tudo o que era artista irreverente a repintou, mutilando-a, por ser tida como emblema do Classicismo, não se querendo reconhecer-lhe na sua pureza a imagem de marca de toda a pintura. Esta foi-lhe admitida pelos artistas sem plasticidade que se debruçaram sobre ela, dos críticos aos exotéricos. Nunca pude impedir-me de pensar que o tão propalado "mistério" do sorriso se deveria a um esquecimento da dentadura aquando da pose, como reforçaria esta descoberta de Gellin e Segal.
Da mesma forma a atenção que as respectivas pilosidades despertam, fosse num penteado mais retorcido, do género imaginado por George Gestaldo, ou nas diminutas expressões de sobrancelhas e pestanas. Não me parece que cole a tese agora aventada de restauros involuntariamente alterantes. Quadros destes eram retocados com cuidado que não se compadecia com esquecimentos. Vejo como mais natural a varição de visual da Dama, que, à semelhança Das de hoje, nem sempre quereria aparecer com o mesmo enquadramento capilar dos olhos, o que, desde a Roma Antiga, proporcionava às Senhoras de Qualidade expedientes para se transformarem, possuindo escravas gregas especializadas.

Interrogado sobre o tema, nunca acertaria no facto ora apurado de ser o Inglês o europeu em que a obesidade atinge, correntemente, maiores proporções. Apesar da apregoada excelência da dieta mediterrânica, à base de legumes, bem como dos abusos do beefsteak e da cerveja, prefiguraria os mais british dos Britânicos com silhueta esguia antes do que latinos e alemães, por exemplo. Mas talvez haja uma explicação independente dos hábitos da fast food: conhecida a deficiência da culinária das Ilhas de Além-Mancha e a correspondente apetência por experimentar as dos outros países, sem excepções significativas, essa condição de globetrotters da paparoca pode dar à luz protuberâncias de tomo.
Simplesmente, a complacência, se não o prazenteiro tom, com que a ironia contra si virada se faz retratar no John Bull comilão, ignorando os perigos iminentes aqui na encarnação francesa desenhada por Gillray, neste momento histórico tão ameaçador pode bem fazê-los acreditar que o mais evoluído estádio da Espécie seja como segue: